segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Trilha para São Francisco dos Campos com retorno pelos Pilões

Tem muito tempo que eu queria fazer esse pedal. Um tempo atrás eu até tentei fazê-lo, só que no sentido inverso. Quanta ingenuidade minha que iria conseguir (relatei em Pedal para divisa SP/MG pelos Pilões).
Tudo começou com o pessoal do Guarabikers agitando uma cicloviagem de 2 dias que iria fazer um trajeto maior, só que voltando pelo Gomeral. Como não teve o número de confirmados necessário para bancar o carro de apoio, decidiram então fazer uma trilha de um dia, saindo de Guaratinguetá, subindo por trilha até Piquete, pegando a BR459 até o posto da PRF perto de Barreira (divisa SP/MG), entrando na estradinha de São Francisco dos Campos e descendo pelos Pilões até Guará. Este último trecho faz parte da romaria até Aparecida, também conhecido com trilha dos tropeiros.
A previsão do tempo era desanimadora, mas dessa vez eu encarava qualquer coisa. Domingão de feriado madruguei, equipei e fui encontrar o pessoal, na frente do Itaguará.
Saímos em 7 bikers (Eu, Gustavo Abelha, Zé Ivan, Lauro, Michel e Bira - o Massa Barro apareceu de Speed e pedalou com a gente poucos kms ...) por volta das 7:45 horas sentido estrada da Colônia. O trecho estava planilhado e zeramos o odômetro em frente o restaurante Bela Santa. Todo mundo estava bem empolgado com a trilha e tinha até trilha sonora rolando (e das boas). 
Descendo a estrada da Colônia, pegamos a esquerda na bifurcação, entramos na estrada de terra, passamos pela ponte e logo estaríamos na estrada da Posses (trecho relatado em Pedal para Lorena pela estrada das Posses). 
Da estrada das Posses pegamos à esquerda e seguimos direto até Piquete. A trilhinha era boa, tinha até um riozinho para atravessar. 
A garoa começou, mas estava naquele chove e não molha e por enquanto nem incomodava.   O trecho era um misto de single track e estradão, tinham umas subidas difíceis de pedalar, umas descidinhas e algumas porteiras. 
Logo chegamos à Piquete e paramos no posto / restaurante na entrada na cidade. Comemos  alguma coisa, batemos um papo e na saída o Bira resolveu voltar de lá para Guará. 
O trecho agora era de 14 km de subida pela BR459 até o posto da Polícia Rodoviária Federal no alto da serra. Começamos a subida e paramos na bifurcação para a estradinha do Marins. Esperamos o resto do pessoal e logo recomeçamos o pedal. 
A medida que subia, encontrava um pessoal descendo de bike. Foram muitos MTBikers descendo em grupo, em dupla, sós, etc. Tinha até um casal descendo de tandem.
Paramos novamente para agrupar o pessoal num posto sei lá de que órgão, no trecho mais sinuoso da serra e tiramos umas fotos do vale, que é muito bonito. 
Logo nos deparamos com um fato muito doido, o Lauro soltando fumaça (de tão frio, o vapor que saía da camisa dele, de algodão, parecia fumaça).
Votamos a pedalar e mais para frente, mais uma parada: desta vez na linda e alta cachoeira que fica na beira da BR e que certamente passa despercebido por quase todos as pessoas que passam pelo local de carro. 
Na cachoeira ainda encontramos um pessoal que pertencia ao grupo que estava descendo a serra e falaram que estavam vindo de Lavras com destino à Aparecida, num total de 35 bikers !
A subida apertava e começava a cansar. A garoa e a neblina também apertavam. Parei umas 2 ou 3 vezes para descansar e tomar uma água. Uma dessas paradas reabasteci a bolsa de hidratação da mochila numa bica numa obra no meio da serra. Logo cruzei com o Michel (que estava na minha frente) descendo e se despedindo, pois ele também estava voltando para Guará. As placas na estrada informavam quantos kms faltavam de subida. 10, 9, 8, logo vieram 3, 2, 1, enfim cheguei no posto da PRF (o km 0 ficava na divisa de estados, bem próximo ao posto). 
No posto, fui recepcionado por um cachorrão preto, que abanava o rabo o tempo todo, mas que por vezes mostrava os dentes quando eu o chamava. Na hora apelidei-o de Trairão. 
Foi eu chegar, tirar umas fotos e a chuva apertou. O frio estava pegando e logo coloquei meu Anorak, já que o local ficava a pouco de mais de 1400 mts de altitude.
Uns minutos depois chegou o pessoal que iria completar o percurso, Gustavo, Zé e Lauro.   O Lauro era um sujeito muito doido: saiu para completar o percurso sem água, sem comida, sem roupa de frio, sem câmara de ar e com R$ 10,00 no bolso. Claro que pegamos no pé dele a viagem toda. Com uma capa de chuva e uns manguitos emprestados ele mandou bem.
Recomeçamos novamente, agora pela estradinha de terra com pedras que saía do lado do posto da PRF. 
Alguns centenas de metros depois chegamos na rampa de vôo-livre onde fizemos nova parada. Que pena que estava nublado e não pudemos contemplar a maravilhosa vista que estava à nossa frente.
Voltando novamente ao pedal, começavam as subidas intermináveis de terra e pedra que não davam para pedalar, ou seja, foi um tempão empurrando a bike. 
Chegamos a 1836 mts de altitude e passado o trecho íngreme, vieram algumas descidas meio perigosas de pedra e barro. Passamos pela estradinha que levava ao Pico do Ataque, ponto culminante da serra, mas que nem pensamos em subir devido ao horário e as condições do tempo. Uns quilometros à frente chegamos em São Francisco dos Campos, que é um bairro rural de Wenceslau Brás. Lá existem algumas propriedades e as ruínas de um Sanatório desativado no início do século passado. 
Paramos para alguns ajustes nos freios, afinal os v-brakes de alguns precisavam de regulagem e voltando ao pedal logo chegamos à Pousada do Barão, um hotel fazenda famoso da região. Entramos no hotel e lá dentro fizemos uma parada para tomarmos uma água (o Gustavo tinha umas proteínas em pó), comermos umas barrinhas e descansarmos um pouco. 
Atravessamos o hotel para continuarmos a trilha, passamos por uma cachoeira muito doida com uma prainha onde paramos para fotos.
Continuamos subindo por uma estrada até passarmos por um pinguela sobre um riacho, fácil de ser atravessado.  
Logo chegamos no início do trecho de descida, a uns 2 km do hotel.
No ponto de início da descida existem umas imagens de santos e infelizmente um monte de lixo, deixados provavelmente por pessoas que acamparam na região. A seta sinalizava o início da trilha de descida. Já eram 16:00 horas.
A descida começa por um single track com valeta e logo vimos que tínhamos que descer das bikes (devidos a uns quase tombos que tomamos). 
A trilha ficava íngreme e logo se transformava numa erosão, cheia de pedras e valetas. Em alguns pontos tínhamos que andar apoiados na bike, com ela inclinada dum lado e nós do outro. 
Outros trechos tínhamos que carregar as bikes. Como minha sapatilha estavam sem cravos, ela estava muito escorradia e isso me fazia levar muito tombos na descida. Gastávamos mais de 1 hora para andar 1 km e não conseguíamos ir mais depressa. Alguns trechos ficavam melhores, quase dando para subirmos nas bikes, mas de repente novos buracos nos faziam empurrar e levantar as magrelas. Às vezes tínhamos que parar, analisar e ver por onde passarmos. O Gustavo e o Lauro se distanciaram de nós e através do rádio íamos nos comunicando para ver onde estavam. Já se passavam das 19:00 horas quando atravessamos o primeiro riacho depois da subida e foi onde vimos que o trecho de erosão não voltaria.
Nessas alturas já estava escuro e eu estava com uma lanterna de cabeça, que mais atrapalhava que iluminava, por causa da chuva e com uma lanterna de mão, e mesmo assim não me arriscava na estradinha que nos levaria aos Pilões pelas pedras e valetas no caminho. Foi por isso que o Zé tomou um tombo cinematográfico: numa valeta a roda da frente da bike dele foi para um lado e ele num reflexo ninja deu uma rolada no chão e quase que caiu de pé. Passamos por mais um riacho, atravessamos um curral onde atolamos pés e bike em bosta de vaca, passamos por um porteira e agora sim, voltamos a subir nas bikes. Mais algumas descidas chegamos a um bar pouco antes dos Pilões, onde o Gustavo e o Lauro nos esperavam com um cervejinha bem gelada.
Após algumas garrafas, umas doses de cachaça das amarelinhas e uns sanduíches de pão com mortadela, conseguímos uma carona com o seu João, que nos levou para a cidade em sua picape. Com isso economizamos mais de 20 km de pedal e mesmo assim cheguei em casa lá pelas 22:00 horas.
Não contávamos que iríamos gastar mais de 3 horas na descida, mas independente dos perrengues, considerei que o pedal foi muito bom, talvez muita aventura para alguns, mas certamente valeu cada quilômetro percorrido. Pela quantidade de barro em mim e na bike deu pra perceber que o pedal foi muito doido.
Não poderia deixar de comentar a famosa frase do Gustavo: "O pior já passou !!!", dita várias vezes em boa parte da descida da serra ...
Ao todo foram 69,59 kms, 6:41 hrs pedalados, quase 14 horas de aventura e 1994 mts de subidas acumuladas, afinal saímos de 501 mts (altitude de Guará) e no meio do caminho chegamos a 1836 mts. Animal !!!!
Mais detalhes do trajeto estão na minha área do Garmin Connect.
A seguir, a altimetria e a captura do Google Earth do trajeto completo e da Serra da Mantiqueira.



Um comentário:

dcastilhos disse...

Show de bola!
A vista do Vale é espetacular.